segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Cinema & Variedades assistiu "Coringa" (Joker) – Crítica sem spoilers


Estrelado por Joaquim Phoenix e com direção de Todd Phillips, "Coringa" (Joker, 2019) é o que eu chamarei "filme de origem com ares de adaptação contextualizada ao realismo". Origem, porque é, agora, o filme live-action de origem do Coringa e por conseguir contextualizar os porquês que levaram um ser humano a se tornar um dos vilões mais psicopatas e violentos da ficção atual, originado das Histórias em Quadrinhos (HQ) da DC Comics. Adaptação, por ser uma colcha de retalhos de versões do personagem, somados à liberdade de criação que foi apresentada, referenciando até mesmo obras anteriores (tem easter eggs) e acontecimentos reais.


O filme tem o clima pesado desde o início, com uma cena onde o personagem principal, Arthur Fleck (Joaquim Phoenix), é repreendido por uma mãe no ônibus, por brincar com seu filho. Após tentar se explicar e ser repreendido novamente, Fleck cai numa crise de riso, causando desconforto na situação. Tentando não gerar confusão, ele dá um cartão médico para a mãe da criança, no qual está escrito a explicação de seu "riso descontrolado" e um pedido de desculpas. Esse distúrbio do riso realmente existe e as pessoas acometidas por isso, acabam rindo ou gargalhando involuntariamente, quando na verdade não estão achando nada engraçado, mas sim, estão nervosas, tensas ou com outros sentimentos contrários ao bom humor. Impossível não sentir a dor daquela cena, pois dá para ver a agonia do personagem. A expressão no olhar transmite um certo desespero contido. E o decorrer do filme é só ladeira abaixo.


Arthur Fleck mora com sua mãe no subúrbio de Gotham City. Trabalha numa firma de palhaços, que direciona seus colaboradores para eventos diversos. Fleck é palhaço profissional e está tentando carreira de comediante stand-up. No filme, vemos uma Gotham afundada em uma crise política, econômica e social. Esse cenário provoca acontecimentos que atingem em cheio o personagem principal. Ao perder o emprego e o tratamento gratuito de saúde mental que possuía, ele mergulha na escuridão que há dentro de si, irrompendo em um evento que acaba desencadeando uma espécie de "revolução" dentro e fora de si, ambas com a marca da violência.

Um detalhe que é muito importante ter em mente ao assistir esse filme é que não há, em hipótese alguma, como comparar Joaquim Phoenix e Heath Ledger. Nem tente! Não há como haver comparação! É algo que não se deve fazer! Os personagens e os contextos são diferentes. Por consequência, as atuações também o são. Contextos diferentes, roteiros diferentes e intensidades diferentes.


"Coringa" é um drama pesadíssimo e muito complexo, que mostra com um realismo absurdo como é uma pessoa com distúrbio psiquiátrico grave tentando ter uma vida funcional normal. Não há nada de bobo ou engraçado na história e nem nos acontecimentos. Há pouquíssimos momentos que parecem se inclinar para uma cena bem humorada, que logo se culminam em algo humilhante, trágico e/ou violento. Eu chamo esse filme de uma espécie de "thriller psiquiátrico e psicológico". Arrisco-me a dizer que o longa será mais bem apreciado pela audiência técnica do que pelo expectador normal. Alguns fãs das HQ da DC podem não gostar desse filme, pelo fato de não ser 100% fiel. Mas se tratando de psiquiatras, psicólogos, médicos, assistentes sociais, filósofos, profissionais da área comportamental e de criminalística em geral, pessoal do teatro, TV e cinema, e demais especialistas afins, esses, com certeza, acharão o filme uma obra de arte. Incluo nessa lista, fãs de HQ que possuem capacidade para entender as contextualizações feitas nessa adaptação.

Infelizmente, alguns responsáveis bem "irresponsáveis" estão levando crianças nas sessões. Se você deseja levar seu filho menor para ver "Coringa", não faça isso! Não se trata de um filme de palhaço ou de super-heroi. Se trata de um filme sobre um dos vilões mais perturbadores das HQ. Não é filme para criança ver. Tem muito adulto que nem deveria ver esse filme também. E o que mais me deixou pasmo foi ouvir risadas durante cenas que foram violentamente brutas.


Como é um filme sobre a origem de um vilão, com certeza há mortes e essas possuem uma motivação "moral" do personagem. Há uma espécie de provocação recebida, onde Fleck é agredido e humilhado. Futuramente, há punição para isso. É como se o ato de revidar fosse quase justificável. Em outras palavras, não há morte de pessoas 100% inocentes, pois no final das contas, elas provocaram uma reação, mesmo não sabendo disso. Nesse quesito, não há fidelidade ao Coringa das HQ, porque o original mata as pessoas a esmo, independentemente de serem ou não inocentes, visando apenas atingir seus objetivos. Mas como já dito, trata-se de um filme de origem e alguns fatos foram apresentados com uma onda crescente de intensidade, o que justifica não haver "de cara" o estado final da arte, quando nos referimos ao psicopata que o Coringa é.


A atuação de Joaquim Phoenix não foi boa. Foi monstruosa, magnífica, irrepreensível, assustadora e muuuuito realista. Não parecia haver 1% de Joaquim Phoenix na tela do cinema. Só se via Arthur Fleck e o Coringa. Joaquim Phoenix foi tão surpreendente que o sorriso e a gargalhada expressavam emoções completamente diferentes do olhos. As linguagens corporal e facial foram impecáveis. Se não for indicado ao Oscar, será uma injustiça imperdoável. É de longe a melhor atuação de sua carreira e uma das melhores já vistas no cinema.

Não posso deixar de destacar a direção detalhista e ímpar de Todd Phillips, que conseguiu encaixar o roteiro na tela de modo prodigioso. Algumas tomadas davam closes em movimentos de mãos do personagem principal, por exemplo, deixando a cena completamente diferente do que seria uma tomada de corpo inteiro. A sutileza da direção foi essencial para captar a "alma do filme. Direção, roteiro, fotografia e figurinos excepcionais.


Sem dar spoiler pode-se dizer que a família Wayne está no filme. Há referências a "Batman: O Cavaleiro das Trevas" e "A Piada Mortal". E o filme se passa durante a infância de Bruce. Não posso revelar mais do que isso.

Se você ainda não assistiu "Coringa", sendo ou não fã do assunto (HQ), corra logo para assistir, pois esse filme já está entre os mais bem avaliados na História do cinema. Vale muito a pena!

Assista ao trailer final legendado, logo abaixo:



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